Ó mar salgado, quanto de teu sal são lágrimas de negras e brancas e índias, ocidentais e orientais?
Quanto de ti não é sufoco? Creio que não pouco...
Negro de luto, negro de vergonha, negro de obscuro.
E no tal escuro há tortura. Em resposta, ouvem-se gritos calados de almas aprisionadas.
Mar de corpos de mulheres que, por serem mulheres, são impedidas de sonhar.
E no cárcere declarado, sonham e lutam e presas labutam.
Dignidade, ainda que tarde, há de pairar no ar.
Enquanto tantas carregam a pesada burca moral e são crucificadas dia-a-dia,
Outras libertam-se e encontram a escada da redenção, mas os pregos hão de deixar marcas eternas de assédio sexual ou não.
Que o beijo, meus caros, não seja a véspera do escarro.
Ao tolo, esquarteja o corpo que te gera, apedreja mães, violenta filhas, atira no peito que te amamenta.
Só não vem procurar aconchego noutro seio acalorado quando o remorso bater.
A mão que afaga não deve apedrejar.
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Poema inspirado na exposição da artista catalã Marisa Nadal exposta, atualmente, no Centro Cultural Dragão do Mar. Chama-se Esquartejadas. Indico.
Dias: 30/jun a 21/ago
Local: MAC do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Visitas: Ter a Qui, das 9h às 19h - De Sex a Dom (e feriados), das 14h às 21h
Informações: (85)3488.8622 / 8624
::Gratuito::